É questão de tempo até termos casos de varíola dos macacos no Brasil, diz médico

Globalização e facilidade de transporte facilita disseminação da doença, mas vacina pode ter uso estratégico para prevenir disseminação.

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Publicada 23 de Maio, 2022 às 09:11

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Para o médico infectologista do Hospital das Clínicas da USP Evaldo Stanislau, é uma "questão de tempo" até que o Brasil identifique casos da chamada varíola dos macacos, que começou a se espalhar pela Europa.

Em entrevista à CNN neste domingo (22), ele afirmou que "um dos aspectos peculiares dessa crise atual é a maneira com que vem se espalhando".

"Os primeiros casos são relatados no Reino Unido, muito rapidamente para Portugal e Espanha, depois outros países na Europa, e já chegou na Austrália e na América do Norte. Em um mundo globalizado em que você pega um avião e 12 horas depois já está em outro país, é muito provável, questão de tempo, que façamos um ou mais diagnósticos aqui no Brasil", avalia.

Segundo o médico, a varíola humana está erradicada desde 1980 graças à vacinação, mas o vírus que causa a varíola humana e o que leva à varíola dos macacos, que também circula em outros animais e esporadicamente em humanos, são muito parecidos.

"As doenças guardam semelhanças clinicas e do ponto de vista imunológico, terapêutico, e isso é bom porque abre o caminho para ter uma resposta rápida contra isso", afirma.

Nesse sentido, a recomendação de Stanislau é manter a calma caso surjam lesões na pele, associadas à doença. "Existe uma série de outras doenças que dão lesões na pele e que temos que pensar antes de pensar na varíola de macaco".

"No extremo oposto, os médicos têm que estar alertas porque um caso que deva ser notificado como suspeito começa com a lesão na pele. Se sente quadro de febre, mal-estar, íngua, alguns gânglios aumentados em algumas regiões e viu manchas que começam vermelhas, viram bolinhas de água e que podem furar e ser múltiplas ou isoladas, isso é um caso que deve ser considerado como possibilidade de varíola", explica.

Em relação às manchas, ele diz que as de catapora costumam variar ao mesmo tempo entre bolhas, lesões vermelhas e crostas. Já as de herpes costumam ser acompanhadas de dor muito grande. No caso da varíola dos macacos, as lesões são sempre parecidas, acompanhando o mesmo ritmo conforme evoluem.

Stanislau aconselha que, "se viajou e teve contato com alguém que veio do exterior e apresenta um quadro de febre, mal-estar, gânglio e lesões vermelhas ou pequenas bolinhas na pele, procure orientação médica".

A transmissão da doença envolve contato íntimo, no momento em que as lesões estão aparentes, ou então com objetivos usados pela pessoa, como roupa de cama. Há a opção, ainda, da transmissão por secreção respiratória, mas o uso de máscaras, comum durante a pandemia de Covid-19, reduz esse risco.

"Quem já se vacinou sobre a varíola, ainda não sabe se está protegido porque não se sabe a duração da imunidade da varíola. Em outras situações semelhantes, de surto, quem tinha histórico de vacinação tinha muito menos impacto que quem não tinha, então provavelmente tem proteção maior, mas é uma possibilidade ainda, não certeza". diz.

O infectologista ressalta que já existe uma vacina contra esse tipo de varíola e um antiviral para combater sintomas. Em geral, porém, eles não tem um acesso disseminado, e só são disponibilizados para combater surtos pontuais.

"É uma doença em geral benigna, com manifestações cutâneas e gerais tênues e passageiras. Para fazer bloqueio e evitar disseminação, porque essa cepa pode ter capacidade de transmissão mais rápida, precisa detectar casos e oferecer a eles a vacinação, e nos pacientes com algum tipo de risco, como crianças, grávidas, eventualmente pode usar o antiviral. É um uso estratégico, e quem pauta a nível global é a OMS", diz.

Ele também avalia que a varíola dos macacos sempre foi uma doença "negligenciada, subestimada" por se concentrar na África, em países que muitas vezes não têm acesso à vacina e antiviral para combater surtos.

"Agora que está atingindo países com mais visibilidade, a comunidade internacional está muito atenta a esse problema. Provavelmente estamos tendo alguma fonte comum que iniciou esse surto, alguém que deve ter vindo da África, mas aí ganha o componente do inusitado, começa a se espalhar muito rapidamente, e esse espalhamento não é usual".

Transmissibilidade

À CNN, o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda afirmou que a "transmissão do vírus ocorre quando há lesão na pele. As chances de transmissibilidade diminui à medida que a pele cicatriza."

Contudo, Croda aponta que é importante monitorar, porque os cientistas já sabem "que a transmissão não é frequente e requer um contato demorado", afirma. 

De acordo com o pesquisador, é necessário "entender quais são as condições que levaram a esse surto [importante], mas que com certeza, é menos preocupante do que a Covid-19 no passado".

O especialista também informou que as autoridades de saúde estão investigando possível transmissão por contato sexual. "Não é certo essa transmissão sexual. Ainda está em investigação. O que a gente recomenda é o uso de preservativo."

O médico avalia que não há motivo para pânico. "Iremos monitorar para que o Brasil esteja preparado para a chegada de futuros casos associados a esse surto que ocorreu na Europa", disse.

Fonte: CNN

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