Uma missão de vida: Melhorar a vida das pessoas

Conheça a história de Andreia Barcellos. A Internacionalista atua e já atuou em diversas organizações do mundo, inclusive na ONU, no trabalho de assistencialismo e direcionamento de refugiados.

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Publicada 29 de Janeiro, 2018 às 09:24

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Andreia Barcellos é internacionalista, medianeirense, filha de Tereza Barcellos e Alberto Barcellos. Formada em Relações Internacionais pela UNE (Universidade Nacional dos Estudantes) - Câmpus Curitiba.

Optou por essa graduação por um motivo claro: "Sempre gostei de política, só que Ciências Políticas não me chamava a atenção por ter a parte de filosofia, um viés que não era o que eu queria. Relações Internacionais surgiu aliada ao meu gostar por assuntos relacionados, como assistência humanitária, conflitos. Isso tudo foi se definindo durante a faculdade, quando ingressei não sabia que rumo tomar".

Atualmente, Andreia está na parte de Assistência Humanitária, que é uma área com bastante abrangência: "Meu Mestrado e minha especialidade é em Direitos Humanos e Migração Forçada. Trabalho em áreas de conflito, áreas sem desenvolvimento, diretamente com pessoas de vulnerabilidade. Podem ser imigrantes, refugiados, e até mesmo pessoas que foram traficadas, pessoas que optaram em sair dos seus países e estão com dificuldades".

A Assistência Humanitária tem a função de prestar serviços para essas pessoas, identificando o que elas precisam, identificar o que o Governo não está fazendo ou o que as ONG's precisam fazer, ou ainda o que a ONU precisa fazer. Tudo isso para garantir que as pessoas desses locais possam ter proteção, documentação, abrigo, e também alimentação, educação, direcionamento.

Timmy Global Health é a empresa que Andreia trabalha no momento. Uma organização sem fins lucrativos que expande o acesso aos cuidados de saúde, desenvolvimento em terra. Capacitando estudantes e voluntários para enfrentar os desafios globais de saúde mais urgentes. Segundo o site da organização, os projetos são baseados na comunidade de países como República Dominicana, Equador, Guatemala e Nigéria.

O último país que a Internacionalista esteve foi o Equador: "O meu trabalho foi organizar todos os serviços que tínhamos em Quito, para a Costa do Equador. Ainda estou na fase final do projeto".

Lugares do Mundo

Uma profissão que requer constante movimento pelo Mundo, Andreia já trabalhou em diversas organizações: "Eu me formei e fui para o Egito, na Revolução Árabe. Depois fui para Boston (EUA), Washington (EUA) que foi onde realizei meu Mestrado. Após um ano fui para a Malásia, fazer um projeto com a ONU, especificamente com refugiados. Após esse período retornei a Washington, e trabalhei em algumas organizações. Fiz um trabalho em Israel com refugiados, durante meu mestrado. E recentemente, fui para o Equador, e agora retornei ao Brasil".

O trabalho de Andreia requer muito esforço, e muita coragem, em diversos lugares aos quais ela foi o risco sempre foi algo eminente, principalmente em zonas de conflito. Para ela, o lugar que mais marcou sua trajetória foi o Egito: "Foi uma experiência única. A Revolução estava acontecendo, eu estava lá na celebração de um ano. O país estava muito violento, muito instável, era tudo muito inseguro, o nível de pobreza era muito grande. A Revolução foi algo muito profundo, politicamente falando".

Outro lugar que ela cita como marcante foi a Malásia, onde trabalhou diretamente com os refugiados: "Eu estava atuando na parte legal e de desenvolvimento de comunidade. As histórias da Malásia foram muito marcantes, de onde eles estavam vindo, o que eles estavam vindo buscar, e era proteção, era qualquer coisa que fosse mais pacifica do que o lugar onde eles estavam".

Os riscos da profissão são grandes, afinal, é preciso estar em locais onde há realidade não é estável: "Em Israel, teve um episódio de risco. É uma área bastante conturbada, e não estávamos nas capitais, e sim em uma cidade bem afastada, onde houveram anuncio de bombas nas proximidades. No Egito, fui a protestos para saber o que estava acontecendo. Na Malásia também corri alguns riscos. Nunca sabemos quem está chegando, nós acreditamos que quem está chegando é de paz, mas não podemos garantir isso. Entrevistei muitas pessoas em suas casas, e uma vez um deles se revoltou, partiu para cima de mim. Tudo isso são coisas que podem acontecer, mas acredito que em toda profissão há um lado mais conturbado".

Sentimentos

"Com certeza a sensação de trabalhar com isso e ver o impacto que a vida das pessoas está tendo. Quando você consegue enviar uma pessoa com status de refugiado para um país como os Estados Unidos, você sabe que mudou a vida daquela pessoa totalmente. Acompanhar esses refugiados nesse processo é muito gratificante. E também há o lado de saber que você está ajudando alguém. Tenho sorte por fazer isso profissionalmente. No Equador haviam pessoas que nunca tinham visto um Médico, ou que não sabiam nem o que era um remédio".

Refugiados do Mundo

Nos últimos anos os refugiados tornaram-se manchetes da grande mídia mundial e quase sempre com notícias tristes. Mas precisamos lembrar que por trás dessas histórias trágicas há muito mais: "Os refugiados são muito mais que as histórias tristes. Há uma cultura, uma ajuda muito grande. Cada um deles traz uma história, normalmente triste, de perder tudo, e isso faz com que eles sejam extremamente resilientes. Eles sabem o que querem, e é uma vida nova, uma chance. As pessoas esquecem dessa chance, as pessoas têm medo, as pessoas apenas veem um barco cheio de refugiados, e esquecem que eles estão procurando uma oportunidade, uma salvação, pois para eles vale correr o risco do ficar em lugares em que há guerras, destruição e não há mais esperança. Eles querem uma vida de paz, os refugiados são pessoas que zelam pela paz, que procuram a paz. Eles trazem muito mais que medo".

Hospitalidade

"Eles são seres humanos em busca de uma vida melhor. São pessoas que perderam tudo, ou passaram por muita coisa. A hospitalidade é fundamental. Muitas pessoas me dizem que há diversos problemas no Brasil e me questionam porque vou para fora, a realidade do nosso país é diferente, aqui há assistência social, existe um suporte para essas pessoas. O refugiado é uma pessoa que ficou no limbo, não há ninguém para protege-los, cuida-los, assisti-los. Então quando elas chegam a qualquer país, temos que receber de portas abertas, temos que perceber que essas pessoas estão procurando uma vida e trazendo muitas coisas junto. São profissionais de diversas áreas, mentes pensantes em potencial. Os problemas com idiomas e outros, devem ser agregadores de valores tanto para eles quanto para nós".

Recentemente, Andreia entrou em contato com a Secretaria de Assistência Social de Medianeira, para iniciar um projeto voltado para os haitianos que nós sabemos que estão em Medianeira, mas há poucos dados a respeito deles: "Além de agregar números e dados sobre eles, é uma forma de conscientizar a população local de que essas pessoas tem uma história, do motivo de estarem aqui, de qual é a realidade do país delas. E quais são as expectativas que eles têm aqui".

Futuro

"Nós estamos em um momento muito complicado, infelizmente não acredito que irá melhorar a qualquer momento. Hoje temos pessoas com mentalidade muito radical em governos importantes, temos pessoas muito nacionalistas governando e isso está afetando muito o direito dos imigrantes e, principalmente dos refugiados. Espero estar errada, mas os próximos anos haverá uma piora na receptividade e percepção como pessoas desses refugiados. Está se iniciado um movimento contrário a esses discursos de ódio, porém, irá demorar um pouco para ter força. E organizações como a ONU, infelizmente, estão com vários problemas, inclusive financeiros, limitando a assistência que poderiam prever. Mas torço para que as coisas melhorem".

Para finalizar, Andreia deixa um recado para os medianeirenses: "Quando soube que havia haitianos chegando a Medianeira, e minha mãe me relatou que a maioria estava com trabalho, fiquei contente. Ao me informar e descobrir que eles estão legalizados, crianças com acesso as escolas. Tudo isso é sensacional, como medianeirenses, como seres humanos, devemos abrir os braços para quem está chegando. Temos que nos sensibilizar com essas pessoas, e ajudar no que for possível. Não precisamos ter pena, e sim ajudar, oferecendo emprego, educação, assistencialismo e hospitalidade. Isso mostrará que sim, são bem-vindas a nossa cidade e em qualquer lugar do Brasil. Como um país de imigrantes que somo, temos que estar conscientes que todos são bem-vindos, porque um dia nossos ancestrais foram bem-vindos".

Redação Revista Guia

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