Alzheimer pode começar pela boca; entenda

Estudo apontou relação de causalidade entre periodontite e a doença neurodegenerativa.

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Publicada 24 de Novembro, 2022 às 10:06

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Um estudo liderado pelo autor Jan Potempa, microbiologista da Universidade de Louisville, nos EUA, apontou que a bactéria Porphyromonas gingivalis, patógeno por trás da periodontite crônica (quadro de evolução da gengivite) agora pode ser cientificamente, relacionada ao Alzheimer.  

Segundo os pesquisadores, embora vários artigos já tenham ligado as duas condições, uma análise do cérebro de pacientes com Alzheimer já falecidos constatou a presença do microrganismo agente da infecção na boca também na região cerebral, sendo ele responsável por uma maior produção de beta-amilóide (A?), proteínas comumente ligadas ao Alzheimer; experimentos com camundongos comprovaram que a infecção oral com o patógeno leva à colonização do cérebro pela bactéria.

"Agentes infecciosos já foram implicados no desenvolvimento e progressão da doença de Alzheimer antes, mas a evidência da causalidade não foi convincente. Agora, pela primeira vez, temos evidências sólidas conectando o patógeno gram-negativo intracelular P. gingivalis e a patogênese do Alzheimer", disse Stephen Dominy, também autor do estudo e fundador da startup farmacêutica Cortexyme, que coordenou a pesquisa. 

Outro ponto curioso do estudo, publicado na Science Advances, foi que além da equipe identificar a P. gingivalis, enzimas tóxicas chamadas de gingipains, das quais a bactéria se alimenta, também foram observadas em cérebros de pacientes falecidos que nunca foram diagnosticados com a doença neurodegenerativa. Para os cientistas, isso é importante porque, embora já relacionadas, ainda não estava claro se a doença gengival causava o Alzheimer ou se era a demência que levava ao problema bucal. 

"Nossa identificação de antígenos de gingipain nos cérebros de indivíduos com DA [doença de Alzheimer] e também com patologia de DA, mas sem diagnóstico de demência, argumenta que a infecção cerebral com P. gingivalis não é resultado de cuidados dentários inadequados após o início da demência ou uma consequência de atraso no estágio inicial da doença, mas é um evento precoce que pode explicar a patologia encontrada em indivíduos de meia-idade antes do declínio cognitivo", explicaram os autores, sugerindo ainda que os pacientes poderiam de fato ter desenvolvido a condição se tivessem vivido mais, independentemente dos cuidados bucais. 

Em suma, a pesquisa concluiu que a presença da P. gingivalis é um fator de risco para a demência, já que está ligada à produção da proteína que desencadeia as falhas cognitivas no cérebro e, consequentemente, o Alzheimer. Embora a presença da bactéria na boca não seja a causa do Alzheimer, ela pode ser considerada um indicativo precoce da patologia. Na cavidade bucal, a P. gingivalis pode surgir a partir da má higiene, causando gengivite e, posteriormente, periodontite.

A equipe acrescentou que, junto ao estudo, um composto da Cortexyme, que já vem sendo testado, foi experimentado em camundongos para verificar a capacidade de redução da carga bacteriana. Nos resultados, além da atenuação da P. gingivalis, a substância também reduziu a produção de beta-amiloides e da neuroinflamação. Embora otimistas, os pesquisadores seguem cautelosos com o tema e afirmam que mais pesquisas serão realizadas. 

Fonte: Olhar Digital

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