E se fosse você? A difícil escolha de um refugiado - Por Andreia Barcellos

Andreia Barcellos é Internacionalista e atua em organizações que recebem, acolhem e direcionam refugiados em vários lugares do mundo. Em parceria com a Revista Guia ela traz questionamentos, observações e sua experiência sobre o assunto.

3.743

Publicada 21 de Fevereiro, 2018 às 15:01

Compartilhar:

Para qualquer pessoa a opção de aventurar-se em terras estrangeiras é uma decisão difícil, que requer planejamento e estudo. Agora imaginem, alguém que não tem uma opção, e que em dias (ou horas) tem que fazer a difícil escolha de permanecer no seu País estando suscetível a violência, instabilidade, falta de alimentos, perseguição e até mesmo a morte, ou ir em busca de uma vida com paz e segurança em um país desconhecido. Essa é a escolha de um refugiado. Ao contrario da percepção de muitas pessoas, refugiados tem pouca ou nenhuma outra opção que não seja sair do seu País de origem e buscar proteção em outro país. Eles aventuram-se, não porque querem uma vida melhor, mas porque necessitam de segurança e uma vida em paz.

Atualmente aproximadamente 60 milhões de pessoas são forçadas a se deslocar pelo mundo fazendo essas escolhas difíceis. As mortes no Mediterrâneo e milhares de pessoas chegando à Europa diariamente levaram "o refugiado" a se tornarem manchetes na mídia Brasileira e mundial. Então é importante que saibamos o que é "ser refugiado" para evitar perpetuar concepções erradas.

Refugiadas são pessoas que escaparam de conflitos armados, ou perseguições politicas, religiosas e étnicas em seus países. Com frequência, sua situação é tão perigosa e intolerável que os levam a cruzar fronteiras em busca de segurança. São reconhecidos como tal precisamente porque retornar a sua terra natal pode ter consequências vitais. Por essa razão o direito internacional define e protege os refugiados.

Quando destruição, guerras e insegurança são iminentes, sobram poucas opções. Durante minhas experiências trabalhando com refugiados, diariamente ouvia suas histórias e os motivos pelos quais deixarem seus países de origem. O que observei é que a saída raramente é uma escolha planejada e organizada, mas sim uma decisão feita às pressas com um alto nível de urgência. Muitas vezes foram obrigados a fugir deixando tudo para trás pois eram vítimas de perseguição. Outros, tiveram suas casas bombardeadas ou queimadas sobrando pouco além da vontade de manter-se vivo e existir em paz. Na maioria das vezes não deixam apenas coisas materiais, mas também amigos e familiares. Na vida de um refugiado, perseguição e medo fazem partes de suas histórias. Porém, refugiados são pessoas com experiências, sonhos, objetivos, e que tiveram seus planos interrompidos ao abandonar seus países sabendo que provavelmente nunca mais voltariam.

Muitos refugiados tem (ou tinham) uma profissão no seu País de origem, são médicos, engenheiros, enfermeiros, professores... tem boa formação, e com uma grande bagagem de conhecimento e experiências.  Eles têm muito a oferecer em um novo país e só nos cabe aceita-los, e desenvolver maneiras de apoia-los e integrá-los em nossa sociedade. Com o mínimo de suporte estamos dando uma segunda chance a vida, diversificando nossa sociedade, e promovendo o crescimento econômico e social. Analisando as crises humanitárias, guerras e o aquecimento global, o número de refugiados tende a aumentar em 2018, e infelizmente ainda não estamos preparados para dar o apoio necessário. O preconceito, medo e falta de conhecimento levam muitos governos a evitarem dialogar sobre o tema e fazem com que falsas concepções sejam perpetuadas na sociedade.

Como bons cidadãos não podemos perpetuar falsas histórias, temos que entender que essas pessoas necessitam de assistência, proteção e compaixão. É importante nos colocar no lugar deles e pensar, e se fosse eu? E se eu tivesse que sair às pressas da minha casa e deixar tudo para trás? Como você gostaria de ser recebido nesse novo país de língua estranha e cultura diferente? Pense nisso quando se deparar com discussões na mídia sobre refugiados, e lembre-se que de cada 113 pessoas da Terra, 1 está solicitando refúgio neste momento, e cabe a nós ajuda-los para que tenham a oportunidade de uma segunda chance na vida, de fazer novos amigos, ter um emprego e um teto, mas principalmente, uma vida digna e com paz.

Texto de Andreia Barcellos

Foto Yannis Behrakis (Reuters)

 

 

** Quer participar dos nossos grupos de WhatsApp/Telegram ou falar conosco? CLIQUE AQUI.

VEJA MAIS NOTÍCIAS | Medianeira