Palestra de Mario Sérgio Cortella é sucesso de público

Evento realizado pela Sicredi, faz parte do Projeto Saber, e reuniu 2.700 pessoas no Lar Centro de Eventos

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Publicada 27 de Setembro, 2017 às 11:04

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Na noite de ontem, terça-feira (26), a Sicredi promoveu no Centro de Eventos da Lar, a palestra com o filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário, Mario Sérgio Cortella, através do Projeto Sicredi Saber.

O objetivo principal do projeto é levar informação acessível e de qualidade para todos, com ações promovidas pela Sicredi. E ontem, Medianeira foi uma das cidades escolhidas para receber este grandioso evento.

Além de proporcionar um momento inesquecível para Medianeira e região, o evento com cunho totalmente beneficente, teve toda a sua renda revertida para o Lar dos Idosos. A diretoria do Lar dos Idosos, recebeu um cheque símbolo referente ao valor, que totalizou R$ 52.000,00, que serão usados na reforma do lar.

O palestrante

Mario Sérgio Cortella desistiu de sua vida de monge, para dedicar-se a carreira acadêmica, sua grande vocação. Em 1980 concluiu seu Mestrado na PUC ? SP. Já em 1997, sob orientação de outro grande pensador brasileiro, o Professor Paulo Freire, Cortella concluiu seu doutorado em Educação, também pela PUC. Entre 1977 e 2012, ele atuou como professor titular do Departamento de Teologia. Segundo ele, sempre bom lembrar que nasceu em Londrina, e é paranaense "'pé vermeio".

Com participação em diversos programas de televisão e rádio, além do sucesso nas redes sociais, o nome Cortella tem ganho cada vez mais destaques em assuntos polêmicos e questões filosóficas que permeiam a nossa vida.

Com mais de uma dezena de livros publicados, ele é conhecido pela sua habilidade em traduzir complexas ideias filosóficas em exemplos simples.

O tema da palestra foi o seu livro, que está completando dez anos, "Qual é a tua obra?". Uma reflexão sobre o legado que queremos deixar no mundo, afinal, por inúmeras vezes, o palestrante frisou algo que todos sabemos e nem sempre lembramos: "Nós vamos morrer".

Durante uma hora e meia, as mais de 2.000 mil pessoas que estiveram presentes, tiveram a oportunidade de entender questões cotidianas de nossas vidas, bem como fazer uma reflexão sobre o que temos feito no mundo para que ele se torne melhor.

Entrevista Mario Sérgio Cortella

O professor disponibilizou um pouco de seu tempo, e concedeu uma coletiva de imprensa exclusiva, confira na integra:

1-    Nesse momento bastante delicado em que nossa política vive, só uma reforma política em si resolveria?

A reforma política ela é um passo, mas não é exclusiva e nem o passo decisivo. Aliás, a reforma política foi anunciada no Brasil em vários momentos, ela quase sempre é um remendo político, raramente é uma reforma. A necessidade de uma reestruturação daquilo que é a nossa própria capacidade de olhar a nossa nação. Um dia, Stefan Zweig, escreveu um livro lá nos anos 1930, ele que estava refugiado no Brasil escapando da perseguição nazista, um livro que foi muito importante na nossa trajetória, chamado "Brasil, país do futuro", e a partir disso, adotamos esse nome e começamos a viver de saudades do futuro, isto é, do país que seremos um dia, da vida que vamos ter, e essa ideia que nós estamos destinados a um momento de sucesso imenso no futuro, ela é muito ruim para nós, porque sempre ficamos esperando. Em vez de termos a ideia de uma esperança ativa, que vai e reordena, a gente fica quase que no aguardo. Por isso, uma reforma no sentido político é pouca, ela precisa ser uma reinvenção da educação, a colocação da educação como um projeto de nação e não de partido, e nem de governo. Educação só funcionou em outras nações quando ela deixou de ser um projeto de governo, quando passou a ser um projeto nacional, isto é, em que a nação a incorpora, assimila e deseja nessa direção. Nosso país vive um momento estupendo, nunca tive uma alegria cívica tão grande igual nos últimos cinco anos. Não imaginei que em meu tempo de vida, veria um país aprendendo sobre política no concreto, entendendo, lidando, tendo interesse, as vezes recuando, muitas vezes se irritando, mas nenhum de nós hoje deixou de ter a política como tema, haja visto que a primeira pergunta foi sobre isso.

2-    Mas é o sistema que está complicado, ou somos nós, o povo, que não quer mudar?

Olha que coisa, o sistema é uma abstração, não existe um sistema, é igual pessoa jurídica, as pessoas falam, mas ela é só uma figura de linguagem, o que existe é a pessoa física, uma nação com homens e mulheres concretos. Por isso o sistema não existe por si mesmo, ele existe como uma composição dos nossos desejos, nossos medos, nossas covardias, nossas omissões. Nessa hora é preciso entender que a nossa democracia é muito recente, por exemplo, a nossa constituição de 1988, que é a que vai abrir a capacidade de uma gestão mais livre, é com a incorporação de todos os homens e mulheres acima de 16 anos, ela vai fazer 30 anos só ano que vem. Isso não é nada perto de nações que estão há 200, 300 anos em uma reorganização da sua vida coletiva.

Por isso, parafraseando Churchill, não estamos no começo do fim, mas sim no fim do começo. Estamos só começando a olhar um pouco algo que é decisivo, que não é só o sistema, por exemplo, agora nós ascendemos a luz e vimos que tinha um monte de rato correndo para lá e para cá, alguns nos colocamos, outros não tínhamos notado que estavam lá, vários deles nos beneficiaram em vários momentos a gente se silenciou em relação a eles, só que agora depois de acesa a luz, não dá para apagar e fingir que eles não estão lá.

Essa é a grande escolha da nação hoje, a luz acesa, os ratos amostra, que que a gente faz? Apaga e finge que eles não estão, ou a gente enfrenta de maneira direta, e enfrentar os ratos não é apenas aqueles que estão correndo aí pelo salão, mas nossos ratos internos também, que são os nossos modos de omissão, de cumplicidade, muitas vezes até de covardia, em relação aquilo que é a edificação de uma nação.  

Sou paranaense, nasci em Londrina, e me lembro o quanto eu, que sou do norte do Paraná, e vindo para cá várias vezes com os meus pais, para o nosso Oeste, o quanto esse estado foi construído por mãos de homens e mulheres que precisaram enfrentar a natureza, enfrentar a dificuldade, uma vida muito mais complexa, e não se acovardaram, e hoje nós estamos enfraquecidos um pouco e precisamos pensar melhor, o que que a gente quer.

3-    Diante dessa crise política sem precedentes, nunca vista antes em nosso país, e a crise econômica que tanto se fala. Percebemos que a crise política está longe do fim, mas percebemos uma melhora na crise econômica, isso é a capacidade do brasileiro de ser otimista, os países emergentes estarem crescendo ou o governo Temer?

Eu acho que são vários movimentos que são concomitantes. As vezes se diz que no Brasil, temos uma situação que ela está confusa, sempre digo que não há uma confusão, mas sim uma multiplicidade de variáveis, isto é, várias coisas podem acontecer.

Vez ou outra me perguntam quem eu acho que será candidato a Presidente da República em 2018, e digo sempre que será quem não estiver preso. O número de pessoas do nosso cotidiano que está na política, que poderá estar fora do circuito em breve, o número de situações que vem à tona, não torna a situação confusa, mas com uma fonte imensa de possibilidades.

Uma delas, é que de fato, no campo da economia o governo anterior que foi retirado ele não estava com capacidade de gerir a economia, com aquilo que o próprio mercado oferece no dia a dia.

Não do Temer em si, mas a permanência do Meirelles, como sendo o gestor, eles sim, com os grupos de atuação, deram a economia que parte do mercado desejava, o que acalmou um pouco os ânimos, isso não significa que a crise política tenha sido resolvida, ao contrário, hoje a população está mais cansando da solução política do que de fato, está aceitando aquilo que está.

É diferente do que acontecida há dois anos, onde havia uma indignação mais forte, a questão é que a temática todos os dias em todos os veículos de comunicação, acaba levando a uma certa mesmice, quando as pessoas dizem 'tudo bem, a gente toca a nossa vida, Medianeira e região continuam produzindo e fazendo. Se o Temer fica ou não fica isso é indiferente".

Isso é interessante, porque algumas democracias conseguem existir sem que o governo tenha importância. E a nossa está começando a fazer um pouco isso, se temos um governo ou não, a vida segue. Desde que ele não atrapalhe.

O problema é que no Brasil, há uma concentração muito forte de poder no nível do Governo Federal, e por isso há um prejuízo em relação a outras nações que são de fato uma república federativa, a nossa é mais no nome do que de fato na prática.

Por isso acho que, a crise política ela é inédita nesse modo, mas ela não é inédita na nossa história. A crise econômica é inédita nesse modo, mas não na nossa história, o que nós nunca tínhamos tido é as duas juntas.

Hoje, quem está no governo tem grandes chances de ser presos, e olha que as grandes delações nem se iniciaram ainda. E é no nosso estado que parte de tudo eclodiu, seja porque a apuração se deu em primeira instância no Paraná, ou seja porque, o vir à tona das coisas começou em Londrina, com o Doleiro, com os deputados e de repente, o nosso estado que nunca teve uma preeminência na política nacional, nunca tivemos ninguém que estive na linha de frente das coisas, pelo menos nesse momento fala-se mais nessa direção.

4-    Professor, vindo aqui para a nossa região para falar para educadores principalmente. Como vê essa iniciativa do Sicredi?

Acho magnífico, o Sicredi faz isso em vários momentos, aqui e em outros estados nós, mas no Paraná com alegria eu tenho participado bastante. Quando você pega uma cidade como Medianeira, que impressiona, em sua área central não chega a ter 40 mil habitantes, mas que você agrega mais de 2.500 pessoas.

Isso é significativo em larga escola, você juntar 2.700 pessoas em uma noite de terça-feira, depois de um dia de trabalho. Em que as pessoas dispõem de seu tempo, seus recursos financeiros.

O Sicredi cumpre uma das coisas que a vida cooperativista carrega com muita densidade, que é viver para a comunidade, sem abrir mão da rentabilidade, da produtividade, da competitividade, da lucratividade. Mas fazendo com que tenha também a ideia de um serviço para a comunidade. Acho que isso é honroso para a instituição, e para mim que sou convidado.

Olha que coisa gostosa, o Sicredi ganha enquanto presença na comunidade, eu como profissional recebo para fazer a atividade, a comunidade vem para ver a palestra, e ainda entidades são auxiliadas, ninguém perde, só o Grêmio (risos).

5-    Muito se fala sobre educação, que precisamos melhorar, reformar, que o Brasil não evolui no setor. Estamos melhorando? Qual é o caminho para melhorar?

Nos últimos 30 anos o Brasil começou a sair da indigência na área de educação, estávamos na UTI na área educacional, nos últimos governos o Brasil começou a descolar-se da UTI. Fomos para a enfermaria, nos falta ainda bastante para termos alta.

O Brasil saiu da miséria de persona, começamos a universalizar a educação básica, incorporamos a educação infantil, ao processo de educação básica, como obrigatoriedade do ensino médio. E claro, a expansão do ensino superior ela é muito significativa junto com o ensino técnico, haja vista, a organização por exemplo, do Centro Federal de Educação que tem em Medianeira.

O governo atual pegou carona em uma reforma, mas não há planejamento, foi colocada de forma amadora, e educação não é para amador. Mas ainda assim, o Brasil cresceu, mas estamos longe ainda do que precisamos.

É preciso lembrar que escola e educação não são a mesma coisa, a área de educação é muito mais ampla, e o brasileiro é um povo que não tem tanta escolarização, mas é um povo que tem educação extensa por conta da mídia, que é um movimento pedagógico forte no campo da rádio, da televisão, do meio digital.

6-    Vivemos em uma região agrícola, e o Agronegócio tem sustentado as bases econômicas do país. Gostaria que você falasse um pouco sobre isso.

O agronegócio ele não pode ser fonte exclusiva de renda de uma nação, porque ele é muito oscilante em relação aos mercados mundiais, mas ele é decisivo para que nosso país nos últimos dez anos tenha sobrevivido as turbulências muito fortes.

É claro que, ninguém em sã consciência pode ancorar a tua capacidade nacional em uma única fonte de receita do nosso PIB. Mas o agronegócio impediu que tivéssemos uma miserabilidade menor no campo da economia mundial.

Tenho andado pelo país todo, e tenho encontrado principalmente no Sul, onde especialmente há presença das cooperativas. Onde houve uma "caminhada", para outros estados, com suas reflexões, tornou possível um avanço e crescimento. A mentalidade de cooperativista está ganhando território, mas não ganhou tudo aquilo que se podia e precisará, dentro da nossa nação. O Agronegócio nos encanta, mas precisa ser um agronegócio inteligente, que agrega valor para todos.

7-    De todas as crises que o Brasil vem passando, há a crise ambiental que veio à tona recentemente. Somos ricos nessa área, o que está faltando?

Não temos uma consciência ecológica muito forte porque a ecologia não foi erotizada, ela não foi transformada em desejo. Nossa sociedade é de comércio, conseguimos transformar uma calça jeans em desejo, transformar um tênis em desejo, um carro em desejo, mas o meio ambiente ainda não.

Como se fala demais sobre o futuro, e as pessoas vivem o presente, raramente, ela pensa naquilo que será depois.

Redação Guia Medianeira 

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