Brasil encerra missão de paz e Haiti vive incerteza sobre futuro

Brasileiros lideraram missão de paz da ONU por 13 anos. Haitianos temem novas turbulências, mas desejam que país caminhe com as próprias pernas.

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Publicada 31 de Agosto, 2017 às 08:57

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Nas ruas de Porto Príncipe, a capital haitiana, um misto de incerteza e alívio divide os habitantes após a decisão das Nações Unidas de encerrar a missão de paz há 13 anos no país. Nesta quinta-feira (30), o Brasil encerra sua presença no Haiti após 13 anos liderando militarmente a Missão das Nações Unidas para Manutenção no Haiti (Minustah).

Para o Exército e o Ministério da Defesa brasileiro, a operação se encerra com sucesso. Mas para haitianos ouvidos pelo G1 na capital, há uma mistura de incerteza sobre o futuro, devido ao risco de grupos armados tentarem retomar o controle de áreas pacificadas e de ocorrerem incidentes políticos, e alívio, já que, para eles, é chegada a hora de o país andar com as próprias pernas.

Não se veem mais capacetes azuis da ONU nas ruas. Agora, são agentes de bonés pretos da Polícia Nacional Haitiana (PNH), com cerca de 15 mil homens e armados de fuzis, que estão no controle da situação.

A capital se divide em duas: a parte acima da base do Brasil e da Embaixada dos Estados Unidos, mais nobre, economicamente ativa, com parte dela com iluminação e ruas limpas e pavimentadas, envolvendo em especial os bairros de Delmas e Petion-Ville, e a baixa Porto Príncipe, próxima ao litoral, uma região mais violenta, com enormes quantidades de lixo nas ruas e onde parece que nada mudou nos últimos 10 anos.

O mecânico Carl Hanryson, de 30 anos, é um dos pessimistas. "Tenho dúvidas e medo do que pode acontecer depois que a ONU for embora. O que está bom pode ficar péssimo. A ONU nos ajuda muito", disse ele em Bel Air, na regiao central da capital.

Já a caixa de supermercado Johanne Jean Louis, de 20 anos, está otimista. "É hora de o país seguir sozinho. Podemos ter problemas, mas temos governo legítimo. Não estamos em guerra. A economia pode ter problemas, porque a Minustah (missão da ONU para estabilização do Haiti) emprega muita gente e movimenta recursos. Mas temos que aprender a caminhar como país", diz ela.
 

Sem muletas

A Minustah foi a quinta missão de paz da ONU no país caribenho. Iniciada em 2004, após um levante levar à renúncia do então presidente Jean Bertrand Aristides, teve início com uma operação multinacional coordenada por Estados Unidos e Canadá, que ficou dois meses até que o Brasil fosse politicamente e militarmente convocado para chefiar a segurança, mas sob égide da ONU. O Embaixador brasileiro Paulo Cordeiro, que chefiou a presença brasileira em solo haitiano desde o início da missão de paz até 2008, concorda que "é hora de o Haiti andar com as próprias pernas".

"A ONU está saindo no momento certo. Ela é seguro da estabilidade no Haiti. Mas esta é uma situação muito confortável. A gente precisa deixar eles soltarem as muletas e andarem com as próprias pernas. Durante alguns meses, isso vai doer. Mas a excessiva ajuda internacional, a imensa quantidade de ONGs, isso muitas vezes atrasa o desenvolvimento. Temos que deixar eles operarem sem muleta", aponta o embaixador Paulo Cordeiro, considerado um dos brasileiros que mais conhecem o povo haitiano.

Condições mínimas

Depois da convulsão social que derrubou Aristide, o Haiti realizou três eleições, todas tumultuadas, com histórico de corrupção e em que diplomatas internacionais tiveram que atuar para que a Constituição haitiana fosse respeitada.

"Caso os atores internacionais não se envolvam efetivamente para o fortalecimento das instituições haitianas em programas robustos voltados para a saúde, educação, saneamento básico, de forma para gerar emprego, condições mínimas de sobrevivência econômica no país de longo prazo, vamos voltar para o Haiti dentro de 10 anos. Porque é isso que efetivamente segura a estabilidade de um país: condições mínimas de sobrevivência, de instituições, de alternância política", avalia o professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, Peterson Rosa.

Fonte: G1

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