Sítios arqueológicos são encontrados perto das Cataratas do Iguaçu; objetos têm ao menos 2 mil anos

Pesquisadores da Universidade da Prata e do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas pesquisam os locais desde 2019. Achados estão no lado argentino das quedas. Segundo professor, cerca de 2 milhões de indígenas da etnia guarani viviam na América Latina.

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Publicada 03 de Junho, 2022 às 11:23

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Sítios arqueológicos milenares foram encontrados nas proximidades das Cataratas do Iguaçu, no lado argentino, de acordo com equipe da Universidade Federal da Prata e do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas da Argentina. 

Materiais como cerâmicas de diversos formatos, instrumentos de pedra, carvão e ossos, estão entre os objetos. Estudo inicial indica que as peças têm pelo menos dois mil anos. 

O arqueólogo Eduardo Apolinaire explica que as pesquisas na região começaram em 2019 quando trabalhadores do Parque Nacional Iguazú, que faz fronteira com o Parque Nacional brasileiro, informaram a presença dos objetos.

"Muitos guardas do parque detectaram em seus trabalhos diários esses materiais, então fomos a estes lugares, e procuramos ver se encontrávamos mais restos. Também realizamos mais pesquisas, seguindo os rios, observando as rochas e locais onde se pode observar o solo, um pouco mais complexo pela cobertura vegetal e passamos a registrar onde há uma maior densidade dos restos," explica o arqueólogo.

Os trabalhos precisaram ser interrompidos na pandemia e foram retomados recentemente. Assim, só agora a descoberta foi divulgada. Os pontos específicos onde os materiais foram encontrados não são divulgados para garantir que a pesquisa não seja prejudicada.

Conforme o arqueólogo, os sítios encontrados na região das Cataratas do Iguaçu têm características diferentes. Alguns contam com vários objetos, como as cerâmicas de característica tupi-guarani. Conheça características sobre estes povos indígenas mais abaixo.

"O que se observa é que em alguns sítios são achados classicamente da tradição tupi-guarani, que se compõe de resto de cerâmica, com decorações muito típicas, pintura tricolor e formas com grandes ângulos, junto com alguns instrumentos de pedra, feitos com rochas locais. Também tem alguns restos de carvão, que são os que nos permitem chegar a conhecer a antiguidade de algum momento deste contexto," explica Eduardo.

Além dos objetos de tradição indígena, o arqueólogo destaca que há materiais encontrados que foram produzidos a partir de rochas locais que lembram facas. Também foram encontrados ossos, possivelmente humanos.

"Outro tipo de sítios arqueológicos que também encontramos são os que não registram cerâmicas, mas algumas ferramentas de pedra que foram utilizadas para cortar e raspar, juntamente com restos de ossos que foram carbonizados e se preservam melhor do que ossos normalmente e também nos servem para conhecer a antiguidade destes contextos," destaca Eduardo.

Importância dos sítios arqueológicos
 
Eduardo destaca que um dos pontos mais importantes da descoberta é a possibilidade de conhecer com maior profundidade quais foram as atividades desenvolvidas nestes lugares onde os objetos foram encontrados.

Não apenas encontrar os objetos mais antigos, mas entender todos os processos de formação das civilizações são o que ele destaca como os fatores mais relevantes quanto a localização dos materiais.

Ele destaca que a história da humanidade é ainda mais profunda do que o divulgado, ou mesmo do que é ensinado nas escolas, através dos livros.

"Esses materiais são um meio de, não apenas conhecer história, mas também de conhecer e contar. Responder perguntas mais amplas que envolvem os seres humanos, que são: como ocorrem os processos e por que acontecem? E como acontecem? Como se dão essas questões e como pode ser o desenrolar de novas tecnologias, a produção de alimentos? Como as pessoas se organizam, e em hierarquias, em alguns momentos?," comenta o arqueólogo.

Berço da civilização guarani
 
De acordo com o professor de história da América Latina da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, Clovis Antonio Brighenti, a região da tríplice fronteira, Brasil, Argentina e Paraguai, é o berço da "civilização guarani".

"O auge de migração deles foi por volta de 900 anos atrás, antes da chegada dos europeus, pelo menos são as evidências arqueológicas que atestam essas informações. Na calha desses grandes rios, há material cerâmico encontrado, relativo a esse povo, essa tradição," explica o professor.

Conforme Clovis, os guaranis que habitavam a região eram agricultores e domesticaram aproximadamente 150 tipos diferentes de plantas.

"Sobreviviam do cultivo da terra. Caça e pesca também faziam parte da nutrição desse povo, mas eram tipicamente agricultores. Milho, mandioca, feijão, uma domesticação ampla de plantas. Estudos indicam até 150 tipos diferentes utilizadas por esse povo, mas principalmente milho e mandioca," destaca ele.

A principal característica da civilização, conforme o professor da Unila, era a aversão a organização social de forma centralizada, ou seja, com um representante de estado. Cerca de 2 milhões de indígenas guaranis viviam na América Latina.

"Embora eles ocupassem uma região densa, e com uma população, que algumas pesquisas indicam até 2 milhões de pessoas no período colonial, eles não possuíam uma organização centralizada, e mais que isso, eles eram avessos a organização centralizada. Isso não significa que não tinha atividades e filosofias e política sem comum, pelo contrário," explica o professor.

Alvos da colonização, os representantes da etnia guarani atualmente somam pouco mais de 300 mil indígenas em território nacional e latino americano, segundo Clovis.

Fonte: G1

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