Thiago da Rocha: 'Confesso que matei 39 pessoas'

Um rapaz empregado, com namorada, que vivia com a avó era suspeito de ter assassinado 15 mulheres. A verdade pode ser muito pior

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Publicada 18 de Outubro, 2014 às 15:05

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 Arredio diante de mulheres, com um discurso que oscila entre a raiva e a passividade, Thiago Henrique da Rocha, de 26 anos, foi preso em Goiânia na noite da terça-feira, dia 14. Era suspeito de matar 15 mulheres. Na delegacia, para surpresa dos policiais, confessou 39 crimes. Em nenhum momento, de acordo com os agentes, esboçou qualquer emoção. Entre suas possíveis vítimas, listou também homens, alguns deles moradores de rua.

Rocha tinha emprego, namorada e uma casa ? morava com a avó num bairro da periferia da cidade. Contratado por uma empresa de segurança privada, trabalhava como vigilante num dos maiores hospitais de Goiânia. Entre os colegas, tinha boa reputação. Não resistiu à prisão quando foi cercado na rua por policiais da força-tarefa, montada para investigar uma série de assassinatos de mulheres na cidade. Na quinta-feira pela manhã, foi apresentado pela polícia aos jornalistas, numa sala lotada na Secretaria de Segurança do Estado de Goiás. Nem piscou diante da comoção causada pela presença de parentes das vítimas no local. Não parecia se abalar com os chorosos. Suportou impassível os gritos de "assassino" e os xingamentos dirigidos a ele.

No pulso enfaixado, Rocha exibia o sinal de não ser tão inabalável quanto tentava aparentar. Ele tentara se suicidar. Estava sozinho numa cela onde havia apenas um colchão, sem capa. Com mais de 1,80 metro de altura, conseguiu, de um salto, quebrar a lâmpada que iluminava o lugar e usar um caco de vidro para tentar cortar os pulsos. O barulho chamou a atenção dos policiais. Desde então, Rocha é vigiado 24 horas por dia.

Vinte delegados se debruçam sobre os inquéritos abertos para apurar todos os crimes que ele diz ter cometido. "Não tenho dúvidas de que estamos diante de um psicopata", afirma o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, João Gorski. "Ele usou facas, armas e, de um tempo para cá, passou a matar mulheres." Todas as vítimas parecem ter sido escolhidas aleatoriamente nas ruas.

Na casa de Rocha, foi apreendido um revólver calibre 38 que, segundo a perícia da Polícia Técnica, foi usado no assassinato de seis mulheres. Rocha também é suspeito de ter participado de assaltos a padarias, farmácias e casas lotéricas. De acordo com a polícia, ele roubava motos e adulterava as placas para ludibriar os investigadores. Imagens de câmeras de segurança flagraram Rocha rondando as vítimas e ajudaram em sua identificação.

A morte em série de mulheres em Goiânia começou no início do ano, quando uma adolescente de 14 anos foi roubada e executada. O assassinato mais recente ocorreu em 2 de agosto. A vítima era outra menina de 14 anos, que estava num ponto de ônibus. Só depois desse crime o governador Marconi Perillo (PSDB) criou uma força-tarefa da Polícia Civil para elucidar o caso. A polícia ainda precisa reunir mais provas para confirmar a veracidade do depoimento de Rocha. Até o momento, a frieza de seu relato reforça a convicção dos policiais de que ele é o responsável. Em suas ações, Rocha costumava anunciar um assalto que não concluía. Atirava e fugia de moto, sempre de capacete. Só testes psicológicos, ainda em andamento, poderão determinar se ele é um psicopata.

Portadores desse tipo de distúrbio enxergam o outro como objeto. Não têm empatia nem demonstram arrependimento. Em geral, são charmosos, manipuladores e podem simular sentimentos. As características são apresentadas num método bem difundido de identificação, a Lista de Checagem de Psicopatia (Psychopathy Checklist), criada por Robert Hare, doutor em psicologia e pesquisador na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. Muitos psicopatas, cientes das consequências de seus atos, conseguem seguir os códigos sociais e evitam prejudicar os outros e a si mesmos. O problema são os que escolhem outro caminho. As características assombrosas dos psicopatas os tornam personagens de ficção inesquecíveis. Como Hannibal Lecter, o médico brilhante e canibal, encarnado pelo ator britânico Anthony Hopkins no filme O silêncio dos inocentes. Outro é Edu, interpretado pelo ator Bruno Gagliasso na série de TV Dupla identidade.

De acordo com Hare, psicopatas costumam exibir comportamento antissocial. Seus problemas começam na infância. Em muitos casos, são mentirosos contumazes, passam por fases de delinquência quando adolescentes e são indiferentes e cruéis, embora nem sempre exibam um comportamento violento. Não estão além do alcance da lei. Quando a polícia age com eficiência, mesmo o mais frio e estrategista dos criminosos pode ser pego.

Fonte: Revista Época

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