Dilma toma posse e promete luta contra a pobreza

Num dia de chuva, a primeira mulher que ocupa a Presidência da República brasileira anuncia "compromisso" de erradicar as situações de miséria existentes no país

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Publicada 03 de Janeiro, 2011 às 11:23

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A chuva torrencial impediu Dilma Rousseff de fazer o trajecto numa viatura de luxo descapotável a caminho do edifício do Congresso, em Brasília, onde o antigo presidente José Sarney lhe conferiu posse. À última hora, foi necessário improvisar uma capota para o Rolls-Royce presidencial. Mas nem a chuva tirou brilho à cerimónia de investidura da primeira mulher no máximo posto político do Brasil. Dilma Vana Rousseff, de 63 anos, economista de formação, substitui desde ontem o seu mentor, Luiz Inácio Lula da Silva, como Chefe do Estado brasileiro. É a "Presidenta", como lhe chamam vários órgãos de informação e como é já conhecida entre a população do país, correspondendo a um seu pedido expresso. É uma página que se vira também na luta pela emancipação da mulher no Brasil.

No seu primeiro discurso, já empossada, Dilma anunciou a prioridade absoluta do seu governo: a luta sem tréguas contra a pobreza. "Lançar um plano nacional de erradicação da miséria" é a primeira das tarefas deste mandato, que se prolongará até 2014.

Lula, nos seus oito anos de presidência, fez ampliar consideravelmente a classe média brasileira, contrariando as previsões mais pessimistas. Mas no país ainda há cerca de 18 milhões de pessoas a viver na maior miséria. Passaram ao largo de todos os 'milagres económicos', reais e virtuais, e são um testemunho vivo de que subsistem profundas desigualdades sociais neste país, que reivindica um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas e se orgulha de ser a sétima mais dinâmica economia do globo.

"Podemos ser um país mais desenvolvido e evoluir para uma democracia vigorosa", afirmou Dilma, uma antiga opositora ao regime ditatorial que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Nesse período, a nova Presidente - hoje adepta de óperas clássicas e de meditação transcendental - chegou a envolver-se em movimentos de guerrilha urbana, acabando por ser detida e torturada na prisão.

De então para cá, abandonou as ideias de esquerda radical, convertendo-se ao pragmatismo de Lula, que combinou políticas assistenciais, como a Fome Zero, com uma das maiores taxas de crescimento económico registadas nos últimos anos à escala internacional, dando novos motivos de orgulho ao país. Lula designou-a sua sucessora, como candidata à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT), após um longo tirocínio de Dilma no Governo - primeiro como ministra das Minas e Energia, depois como chefe da Casa Civil do Palácio do Planalto, funções equivalente às de primeiro- -ministro no sistema constitucional brasileiro, semelhante ao dos EUA pela sua forte componente presidencialista. A vitória nas urnas ocorreu em Outubro, contra José Serra, apenas à segunda volta.

A posse decorreu perante uma plateia de notáveis onde se destacavam a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o Presidente do Chile, Sebastián Piñera, o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, o príncipe Filipe, herdeiro do trono espanhol, o presidente da Autoridade Palestiniana,Mahmud Abbas, o primeiro-ministro da Coreia do Sul, Kim Hwang-Sik, e o Presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá.

Portugal esteve representado pelo primeiro-ministro, José Sócrates.

Entre as 47 individualidade estrangeiras presentes em Brasília, uma encontrava-se certamente investida de uma missão diplomática muito especial: o primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borisov. É que Dilma tem ascendência búlgara através do pai, um imigrante que trocou a Bulgária natal pelo sonho de prosperidade no Brasil.

"Prometo manter e defender a Constituição, cumprir as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a unidade, a integridade e a independência do Brasil." Este foi o texto do juramento na cerimónia solene desenrolada sob o olhar atento do presidente do Senado, José Sarney, igualmente presidente do Congresso. Por ironia, trata-se de uma das mais polémicas personalidades da cena política brasileira, que ocupou a presidência entre 1985 e 1990 - o primeiro Chefe do Estado civil após o fim da ditadura militar.

Na mesma cerimónia, prestou também juramento o novo vice-presidente, Michel Temer, um advogado de 70 anos que foi presidente da Câmara dos Deputados e é líder do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, a principal força política aliada do PT, de Lula e Dilma.

 

Fonte: Globo

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