O fenômeno internacional que veio do Paraná

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Publicada 09 de Janeiro, 2012 às 10:56

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Por: Rafael Costa

Da dança dos soldados israelenses às versões em holandês, italiano e polonês para "Ai Se Eu te Pego". Da polêmica com Bruno Medina, do Los Hermanos, que resolveu comentar o sucesso da música em seu blog, às infinitas discussões nas redes sociais, ninguém passou incólume pelo hit de Michel Teló ao longo da última semana. Natural de Medianeira, no Oeste do Paraná, o cantor sertanejo é, sem sombra de dúvida, o artista nascido no estado com a maior e mais veloz repercussão da história.

O cantor se tornou um fenômeno verdadeiramente internacional - algo tão difícil para um artista brasileiro que o caso foi comparado pela revista americana Forbes ao sucesso de Carmen Miranda nos anos 1940. "Você ainda vai ouvir falar de Michel Teló", diz a publicação. A citação foi a cereja do bolo da sucessão de acontecimentos desde que a coreografia de Teló foi repetida por jogadores de futebol conhecidos mundialmente, como Cristiano Ronaldo e Marcelo, além de Neymar.

No ano passado, o clipe "Oração", do grupo curitibano A Banda Mais Bonita da Cidade, tornou-se um "viral" no YouTube, com 3 milhões de acessos em dez dias (hoje, já são mais de 8 milhões). Um feito e tanto, que também foi parar na mídia estrangeira, mas muito pequeno diante dos 102 milhões de visualizações contabilizadas pelo videoclipe de Teló até a tarde da ontem - e, em se tratando de "Ai Se Eu te Pego", a hora do dia é importante para situar a informação, uma vez que o número não para de crescer.

Numa febre similar à lambada no fim dos anos 1980 e a "Macarena", dos espanhóis do Los del Rio, na década seguinte, a proliferação do hit de Michel Teló desconhece fronteiras. Ontem, a faixa liderava as paradas da loja virtual iTunes na Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Espanha e Suíça, e ocupava as primeiras colocações na Alemanha (2.º), Áustria (5.º), Grécia (2.º), Itália (4.º) e França (5.º). "Ai Se Eu te Pego" é a 13.ª música mais baixada pela loja na Europa, desbancando canções de artistas como Adele e Beyoncé.

Casa local

O clipe, que foi gravado em Curitiba, é o quarto vídeo musical mais visto do YouTube em todo o mundo. Embora seja radicado em Campo Grande (MS) desde criança, a relação da carreira do cantor com o Paraná é importante. "Ele acredita tanto no público do estado que resolveu gravar aqui", diz Fabrício Schmidt, sócio e fundador do Grupo Wood's, rede paranaense de casas noturnas especializadas em música sertaneja. "Isso ajudou no sucesso do clipe, porque o público compareceu, todo mundo participou e a imagem ficou bonita", diz o empresário curitibano, amigo pessoal de Teló.

Para Schmidt, o Paraná ajudou a impulsionar Teló, que fez o segundo show de sua carreira solo na Wood's. Assim Teló emplacaria "Ei Psiu Beijo me Liga", já em 2009. "Fugidinha" também se tornou sucesso no país e, em 2011, o cantor já era presença constante em programas de tevê e enchia locais de espetáculos Brasil afora. "É um trabalho que vem sendo construído há bastante tempo", diz Schmidt sobre a trajetória profissional de Teló. "Foi um caso de merecimento, não um tiro de sorte", diz.

Infância em Medianeira com paixão pela música

Luciane Horcel

"Ele é filho de Medianeira!" Essa á primeira coisa que o povo do município de 42 mil habitantes, no Oeste paranaense, fala quando o assunto é Michel Teló. Pouco importa o fato do músico ter saído do Paraná com apenas 3 anos de idade para morar em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O que vale é saber que o autor do sucesso internacional mais comentado das últimas semanas cantou as primeiras músicas em uma casa de madeira no centro da cidade.

Seu Moacir Teló, tio de Michel, que vive em Medianeira, conta que o menino sempre gostou de música e que as reuniões animadas da família foram um bom incentivo para a carreira do rapaz. "Tínhamos o hábito de reunir os parentes e todos gostam muito de música, tocam instrumentos. Então, a gente sentava na sala para cantar canções italianas, gaúchas e sertanejas e ele, que ainda era bem pequeno, já adorava. Cantava junto, dançava. A gente via que ele tinha muito gosto por música, mas nunca imaginávamos que ele ia fazer um sucesso como esse", conta.

Segundo o tio, o menino magro e alegre não era de aprontar. Educado, obediente e apaixonado por futebol, o garoto quase não dava trabalho. "Ele era um menino calmo, tranquilo. E é assim ainda hoje, uma pessoa de princípios, conservador, que valoriza muito a família", diz o tio.

O jeito sério - apesar das músicas maliciosas - também é famoso entre os que convivem com o cantor. "A primeira coisa que as meninas querem saber quando veem o meu sobrenome é se o Michel é casado. Digo logo que sim", conta a prima de Teló, Jaqueline.

Raízes gaúchas

Outro que é só elogios ao cantor é o empresário Wagner Hildebrand, do Grupo Tradição, em Campo Grande. Foi nesse conjunto cujo repertório é calcado nas músicas da tradição gaúcha que Michel começou a carreira profissional e no qual permaneceu por 12 anos. "Quando entrou para o Tradição, ele ainda era um menino com 16 anos. A voz ainda estava mudando, tinha aquelas variações engraçadas. Então foi preciso fazer um trabalho grande de preparação. Até porque ele era um pouco tímido, tinha dificuldade para se soltar sem o acordeão. Inscrevemos ele na aula de voz, de teatro, expressão corporal e outras coisas para ajudar na performance no palco", diz Hildebrand.

A notícia de que Michel queria seguir em carreira solo foi um choque para o grupo todo, mas o relacionamento entre os colegas músicos não foi abalado. ?Foi um impacto grande porque a gente não esperava e tinha investido muito na imagem e preparo dele. Mas o Michel é uma pessoa dócil, carinhosa, fácil de se conviver. Sabíamos que era uma escolha profissional?, conta o produtor.

Sandro Coelho, amigo e vocalista da banda Tchê Garotos, de Porto Alegre, guarda bons momentos do tempo de convivência com o garoto de Medianeira. "Conheci o Teló quando ele tinha uns 10 anos. Eu já trabalhava como produtor musical e ele foi gravar uma participação em uma banda de Maringá no estúdio em que eu estava. Eu me lembro de ouvi-lo cantar e pensar 'Gente, esse moleque é bom demais!'", relembra.

Além de sentirem-se orgulhosos pelo tempo de trabalho com o artista, Sandro e Wagner acreditam que o sucesso de Teló, apesar de ligada ao movimento do sertanejo universitário, serve como grande divulgação para as bandas de ritmos gaúchos. "Com certeza ajuda muito na valorização do nosso trabalho, afinal essa foi a origem dele, a base do Teló", diz Hildebrand.

Redação: Gazeta do Povo

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