O resgate dos meninos Tailandeses e os APÁTRIDAS - Por Andreia Barcellos

A localidade da caverna onde os meninos se perderam é conhecida como

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Publicada 13 de Julho, 2018 às 09:27

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Nas últimas semanas o mundo inteiro uniu-se torcendo para um único time: O Javali Selvagem. Em época de Copa do Mundo, onde vemos a união dos povos em torno do esporte, a rivalidade somente em campo e as festas nas ruas, todos esperavam ansiosamente pelo resgate dos meninos.

Quando nove dias depois eles foram encontrados, um menino chamado Adul teve um papel fundamental no resgate: o de tradutor. Eles foram encontrados por mergulhadores Britânicos, e Adul era o único que falava inglês (além de Tailandês, Birmanês, Mandarim, e Wa) um poliglota providencial em um momento de crise. Mas esta não é a única curiosidade desse menino, ele também é apátrida. O treinador que teve papel crucial nesses dias de angustia e decidiu não se alimentar para dar aos meninos, os conduziu  em meditação e união durante os dez dias, é da minoria Shan do Myanmar e teve seus pais assassinados simplesmente por serem Shan quando ainda era pequeno, também é apátrida. Além deles, dois outros meninos que estavam na caverna também são apátridas.

Mas o que significa ser apátrida? São pessoas que não tem sua nacionalidade reconhecida por nenhum país, ou seja, não contam com documentos, nem proteção por nenhum país. São pessoas "invisíveis" para o mundo. Isso pode ocorrer por várias razões tais quais falha em reconhecer os residentes de um país, conflito de leis, ou discriminação contra minorias - como é o caso dos meninos e do treinador. Por serem minorias no Myanmar e excluídos pelo governo local, eles não têm direitos no país em que nasceram. Tampouco tem direitos na Tailândia, país onde tentam reconstruir suas vidas, ficando em um limbo judicial sem documentação.

Sem a proteção e documentação de nenhum governo, essas pessoas ficam a mercê de traficantes e empregadores inescrupulosos. Eles não têm direitos de procurar médicos públicos, escolas, ou abrir contas bancárias. Tampouco de serem empregados legalmente ou casarem. Normalmente essas pessoas vivem as margens sociedade, em situações de risco extremo e vulnerabilidade. Até para pedirem asilo político, um direito de todos, eles encontram grande dificuldade, pois não contam com documentação. Pouco ainda se fala dessa parcela da população, mas infelizmente ainda temos no Sudeste Asiático uma grande presença destes. Várias minorias do Mynmar, tais quais Shan, Rohingya, Chin, Wa e outras sofrem diariamente discriminação e perseguição no seu país de origem, e no país onde procuram reconstruir suas vidas.

A localidade da caverna onde os meninos se perderam é conhecida como "Golden Triangle", o encontro entre Laos, Myanmar e Tailândia. Muito turístico, porem um polo para trafico de pessoas, onde refugiados e apátridas que tentam sobreviver diariamente. Existem ao menos 440.000 apátridas morando na Tailândia, e em sua  maioria naquela região. Eles são minorias no Myanmar que entram na Tailândia em busca de segurança, mas continuam sem  reconhecimento  dos órgãos governamentais.

Frequentemente encontra-se "vala comum" naquela região, com 20 ou 30 corpos, normalmente não consegue se identificar quem são, mas sabe-se que são de minorias vítimas de traficantes.

A historia de Adul e do treinador não é diferente. Com a família, Adul fugiu do Myanmar e das atrocidades cometidas pelo exército local quando ainda tinha  seis anos. Seus pais, analfabetos e pobres tentam construir uma vida na Tailândia, mas ninguém de sua família tem documentos. Ou seja, são invisíveis para o mundo. O treinador, depois de ter seus pais assassinados, entrou em um monastério Budista na Tailândia, onde passou 13 anos da sua vida, e continua vivendo sem documentação.

É difícil saber quantos apátridas há no mundo, mas a ONU acredita que existam aproximadamente 10 milhões de pessoas nessas circunstâncias, sendo 1/3 crianças. Apesar de serem uma das parcelas mais marginalizadas da população mundial, pouco se fala sobre eles. Recentemente a ONU iniciou uma campanha para acabar com os apátridas nos próximos 10 anos, trabalhando com Países para que os reconheçam e garantam seus direitos. Quando temos apenas o conflito de legislação a solução é mais fácil, porém, quando o motivo é discriminação ainda temos um longo caminho a percorrer.

Infelizmente, enquanto discriminarmos pessoas pelo grupo étnico, cor da pele ou religião, pessoas continuarão sendo marginalizadas e sofrendo violações de seus direitos. Nós deveríamos nos espelhar mais nos esportes: sem discriminação unindo os povos

Por Andreia Barcellos

 

 

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