A difícil escolha de uma Mãe refugiada - Por Andreia Barcellos

"Você tem que entender que ninguém coloca seus filhos em um barco, a menos que a água seja mais segura que a terra" - Warsan Shire - filha de refugiados Somalis

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Publicada 07 de Maio, 2018 às 10:34

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No mês em que damos carinho e atenção especial a todas as mães, não podemos esquecer daquelas que sacrificam mais do que podemos imaginar, as refugiadas. Aquelas mães que fazem difícil escolha de deixar seu país, para muitas vezes salvar seus filhos da única opção que países politicamente instáveis oferecem às crianças e adolescentes:

Crianças soldados

Abusos sexuais constantes

Bombas, morte e destruição

Aliciamento a gangues

Esposa por encomenda

Aliciados ao trafico

Recrutada para prostituição

Etc.Etc.Etc.....

Ninguém no mundo deveria passar por isso, mas infelizmente em muitos lugares, não há opções para essas crianças e jovens. Com certeza, nenhuma mãe gosta de viver constantemente com medo e insegurança pelos seus filhos, e ter de criar seus filhos neste complexo panorama onde não há saída, e tudo isso simplesmente por estarem no lugar errado. Ninguém gosta de viver em constante perigo.

Acreditar que, essas crianças e mães, tenham a escolha de permanecer em seu país, e levar uma vida normal, é muito errada. Culpar uma mãe por colocar seu filho em um barco, ou em uma travessia arriscada, para chegar em algum lugar que se tenha segurança, e principalmente, esperança de uma vida segura e produtiva, é no mínimo injusto.

Ao fugir, quantas mães perdem-se ou perdem seus filhos? Quantas famílias são desmembradas, quantas pessoas morrem. Além desses riscos, ainda estão altamente suscetíveis a sequestros e ao tráfico de seres humanos. Não existe dor maior do que não saber onde está, como estão, ou se estão vivos seus entes queridos.

Na hora que o caos está instalado, e a luta pela sobrevivência é primordial, a perda de um ente familiar acaba tornando-se inevitável. Irmãos se perdem, pais, mães e famílias são desmanteladas. Na minha experiência não vi sofrimento maior que de uma mãe não saber o paradeiro de seu filho, principalmente se está vivo ou morto.

Para enfrentar esse problema, existe uma cooperação entre agencias internacionais, igrejas e pessoas direta ou indiretamente envolvidas na proteção e assistência de refugiados. A troca de dados por agências não governamentais, ONU, Cruz Vermelha, e Igrejas ajudam na localização, identificação e unificação de diversas famílias. As vezes passam-se anos até que os parentes sejam encontrados e a reunificação se faça e, às vezes, elas nunca ocorrem.

Quando estava na Malásia, a ACNUR promoveu um encontro de familiares no qual, felizmente participei. Assistir a esse reencontro, foi um dos pontos altos de minha experiência. A reunificação é feita com extremo cuidado para que pessoas ignóbeis não se aproveitem da situação. Mas a alegria das mães de reencontrar o seu filho, os quais não se sabia se estavam vivos ou mortos, e ver uma criança com os olhos brilhando ao reconhecer sua mãe e correr em sua direção, porque a reconheceu, é indiscutivelmente, a certeza de que não existe maior desespero do que não saber do paradeiro de seu filho. As crianças correm em direção as suas mães. As mães os abraçam como se quisessem tirar o tempo perdido. De todas as experiências, reunificação entre mães, pais e filhos com certeza é a que mais marca as pessoas que trabalham nessa área. É emocionante, e esses poucos momentos alegres valem a pena, e nos estimulam para que continuemos a ter esperança no ser humano e em um mundo melhor.

Infelizmente temos pessoas que tiram proveito dessa situação de vulnerabilidade das crianças e famílias. Para evitar o aliciamento de menores e o trabalho de traficantes, a reunificação familiar realiza-se com muita cautela. Muitas pessoas aproveitam-se da situação passando-se por familiares para alicia-los ou trafica-los, assim, impondo grandes desafios aos profissionais envolvidos no processo de reunificação. Tem que ter assistência de psicólogos, pedagogos e pessoais que estejam diretamente envolvidas nos processos de reconhecimento dessas famílias.

Além de todos esses medos e inseguranças, a mulher imigrante ou refugiada é mais suscetível a exploração, abdução e tráfico. Recentemente foi documentado, que nos caminhos de migração para a Europa, estupro e o abuso sexual é sistemático e recorrente, atingindo a mais de 50% das mulheres que fazem esse percurso. Muitas das quais viajam com seus filhos, os quais são expostos a situações e condições que nenhuma criança, jamais, deveria assistir. Nenhuma mãe colocaria seus filhos nessa situação, se, em sua terra natal não impusesse riscos e situações ainda piores e mais complexas.

Neste mês que homenageamos as mães, vamos lembrar que todas as mães têm os mesmos sonhos para seus filhos. O amor de mãe atravessa fronteiras e diferenças culturais. Cada uma de sua maneira, com seus costumes e crenças, quer que o seu filho tenha uma vida melhor que a sua. Qualquer mãe tenta, de todas as formas, garantir que seu filho possa sonhar, acreditar e ter oportunidades para desenvolver- se como pessoa e profissionalmente. Independente de onde tenham nascido, de onde vem e para onde vão, a busca da mãe vai ser sempre, o melhor para seu filho.

Parabéns a todas mães, refugiadas, imigrantes ou não, pois são todas iguais na proteção e amor a seus filhos. Feliz mês das mães!

 

 

DOAÇÕES:

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) lançou uma campanha de arrecadação de fundos para atender as necessidades especiais de mulheres refugiadas grávidas ou que tenham filhos. Por meio de doações online, é possível contribuir com ações de atendimento pré-natal, pós- parto e que garantam acesso a alimentação e serviços básicos de saúde das mães e bebês. O site para doação pode ser acessado em https://doar.acnur.org/acnur/maes.html

 

Texto: Andreia Barcellos 

Foto: Divulgação

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