O caso dos refugiados Sírios e a guerra sem fim - Por Andreia Barcellos

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Publicada 09 de Março, 2018 às 09:25

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Esta semana ouviu-se muito sobre a destruição na Síria e as várias vítimas, inclusive crianças. Mais uma vez fotos chocantes rodaram a o mundo, gerando uma grande comoção internacional, porém nenhuma ação política efetiva foi tomada.

As histórias dos refugiados não são bonitas. Mas são histórias de ajuda, cooperação, amor e acima de tudo, resiliência. Eles se reinventam onde estão, ajudam seus companheiros e dividem o pouco que tem. 

Durante os anos que trabalhei com eles, tive diversas lições de vida. Mas o meu primeiro encontro com um refugiado Sírio mostrou-me que tratava-se de  um grupo atípico, diferente dos refugiados vindo de países que viveram décadas de conflitos, instabilidade e pobreza extrema. Sírios cresceram em um País com instituições políticas relativamente fortes e bons níveis de educação, e que apesar de seus problemas internos não presenciava-se conflitos armados.

Esse refugiado por exemplo, era um engenheiro, falava fluentemente 3 idiomas e tinha uma empresa de construção em uma cidade perto de Aleppo (área que foi completamente destruída pela guerra). Ele mostrou- me fotos de sua casa e da empresa, antes e depois dos bombardeios, fotos do casamento e nascimento dos filhos. Toda sua vida havia sido destruída. Da sua família, só sobreviveram ele, sua esposa e dois de seus filhos. Comentou que estavam sozinhos no mundo, mas que queriam retornar a Síria e reconstruir suas vidas, "Sou Sírio, não quero passar a vida sendo visto como refugiado, dependendo da ajuda dos outros." Conversando, comentaram que jamais imaginavam que algum dia iam se tornar refugiados em um país estranho e ver a destruição de seu país.

Conheci outro casal sírio, dois médicos já nos seus 50 anos, que não sabiam da localização de seus filhos. Sendo eu filha de dois médicos, essa história chamou mais a minha atenção. Eles queriam trabalhar com os nossos refugiados, e prestar seus serviços médicos e de tradução. "Sei que posso ajudar, sei do que eles precisam. Tenho que me fazer útil para ocupar minha cabeça." Esse casal não tinha mais nada na Síria, tudo que haviam construído durante suas vidas não existia mais, tinha desaparecido em um piscar de olhos.

Nos últimos 7 anos presenciamos uma grande guerra na Síria, que passou de manifestações para um conflito armado, transformou o povo sírio em refugiados e gerou a maior crise humanitária da história. Apesar dos vários problemas políticos anteriores a guerra, a Síria era um país pacifico, com políticas publicas e instituições funcionastes. Ninguém imaginava que a guerra na Síria iria gerar uma crise humanitária destas proporções, com índices recordes de refugiados e milhares de vitimas.

As consequências desse conflito civil perpetuará  por gerações, já havendo a "geração perdida" ? crianças e adolescentes que foram privados da paz, educação, família, teto e  direitos básicos. Acredito que a guerra da síria está longe de ter um fim, e mesmo que acordos de paz sejam assinados a reconstrução será longa e complicada. 

 

Qualquer refugiado, imigrante ou estrangeiro necessita de nosso apoio e compreensão. Sírios já testemunharam muita destruição e merecem todo o nosso respeito. Temos que aceitar as diferenças, e ajudar sempre que for possível. Compartilhar histórias que mostrem a realidade dessas pessoas é uma ótima maneira de aumentar nosso conhecimento e de ter a certeza que conflitos armados só trazem destruição.

Diversas ONGs internacionais trabalham com Sírios, na Síria ou em campos de refugiados nos países vizinhos, os quais estão sempre precisando de doações financeiras para continuarem com seus trabalhos (estas doações  podem ser feita por web sites).  Já trabalhei com essas organizações e pude testemunhar o grande impacto na vida destas pessoas. Apesar de nossas ações serem limitadas nessas situações, podemos ajuda-los enquanto estiverem no Brasil e em nossas comunidades. Aceitar sua cultura, ter paciência enquanto aprendem o português, integrá-los em nossa sociedade, e oferecer todo o apoio enquanto superam seus traumas e reconstroem suas vidas. 

Texto de Andreia Barcellos

Foto: Divulgação

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