Os boatos que alteram a rotina da polícia pelo país

Levantamento feito com corporações de vários estados mostra que tipo de notícia falsa mais atrapalha o trabalho diário. PMs têm utilizado táticas para rebater informações divulgadas na web.

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Publicada 24 de Outubro, 2017 às 09:40

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Notícias falsas compartilhadas pelo WhatsApp têm atrapalhado o trabalho das polícias pelo país, que precisam mobilizar seus serviços de inteligência e movimentar equipes para checar as informações. Com a proliferação cada vez maior das chamadas "fake news", as polícias têm adicionado à rotina diária mais uma tarefa: a de desmentir boatos nas redes sociais.

No Rio, a corporação utiliza um carimbo para realçar quando a informação não procede. Mas admite que o esforço nem sempre surte efeito, já que o desmentido raramente alcança a mesma visibilidade que a notícia falsa.

O levantamento aponta que os boatos mais frequentes mudam de acordo com o local. No Rio Grande do Sul e em Mato Grosso, os mais comuns são os relacionados a sequestros de crianças. Em Pernambuco, são os arrastões. Na Bahia, os toques de recolher dão a tônica dos boatos. Já no Rio de Janeiro, há toda uma gama de notícias falsas, que vão de tiroteios e sequestros a arrastões e toques de recolher.

Também são múltiplas as motivações para o surgimento de um boato ou notícia falsa, segundo as polícias. Podem nascer no celular de um cidadão assustado que confundiu uma briga com um arrastão ou um estouro de pneu com um tiro. Até gravação de cena de novela já foi reportada como imagem real de assalto. Há ainda as correntes que espalham notícias sobre crime sem identificar o local e o horário do fato, e que acabam confundindo todo mundo. E, claro, existem também os boatos mal-intencionados, que, segundo as corporações, são emitidos ou estimulados pelo tráfico ou pelo crime organizado para desestabilizar as forças de segurança.
 

Rio Grande do Sul
 
No Rio Grande do Sul, os boatos e notícias falsas mais frequentes dizem respeito a crianças sequestradas em veículos roubados.

Também ocorrem casos onde vídeos que relatam crimes diversos são enviados para a Brigada Militar ou são compartilhados em grupos, pedindo uma resposta das autoridades, mas neles estão casos muito antigos ou de fatos ocorridos fora do estado e do país.

Rio de Janeiro
 
No Rio, são frequentes relatos de arrastões, roubos, sequestros, fechamento do comércio por determinação de criminosos, além de tiroteios, em todos os locais e em diversos horários.

O major Ivan Blaz, coordenador de comunicação da PM cita como exemplo a gravação de uma cena de novela ? um assalto no túnel Marcello Alencar ? disseminada em mensagens como fato real.
Também ocorrem casos em que um carro avariado ou acidentes de trânsito nas vias expressas (Av. Brasil, túneis, Linhas Vermelha e Amarela) são divulgados como arrastões.

"Vídeos sem procedência, indicação de local ou data são enviados diariamente pela imprensa à assessoria de imprensa da PM, que não tem como precisar se são verdadeiros ou não. Recentemente, circulou nos grupos um vídeo que mostrava um roubo em São Vicente, São Paulo, mas identificado como tendo sido gravado nos arredores do Norte Shopping. Cabe à equipe de Comunicação Social usar das redes sociais para desmentir e assim minimizar o efeito das notícias falsas, informando com presteza e de forma clara a realidade dos fatos", diz.

A checagem desses boatos custa o deslocamento de equipes em viaturas e motopatrulhas, que em boa parte dos casos não verificam a existência real da ocorrência.

"Coletivos, páginas de bairros e grupos de Whatsapp prestam um trabalho útil ao alertar a população para ocorrências de delitos, mas a versão oficial dos fatos é de responsabilidade da PM, que verifica cada informação que circula nas redes sociais. E, nem sempre, elas são verdadeiras."

O major afirma que, além de prejudicar o policiamento, por conta dos deslocamentos desnecessários das equipes, os boatos promovem o medo difuso na população.

Informações falsas surgem quase que diariamente motivadas por diferentes origens, segundo ele. Há os cidadãos mais assustados que, ao ouvirem o estampido de uma descarga de motor, postam que em tal rua está ocorrendo um tiroteio e a notícia falsa se espalha como rastilho de pólvora.

Também há casos de boatos disseminados pelo crime organizado na tentativa de instaurar o pânico e prejudicar o trabalho das forças de segurança, segundo o major. "Foi o que aconteceu quando a Polícia Militar interveio na guerra entre criminosos de facções rivais na Rocinha, em setembro deste ano. Fomos obrigados a desmentir informações falsas sobre invasões em empresas públicas, presença de traficantes em escolas", diz

Para minimizar os efeitos de informações falsas disseminadas pelas redes sociais, a PM do Rio criou uma vinheta com o título em destaque "É Boato" e passou a "carimbar" o selo em suas plataformas de comunicação, como o Twitter e o Facebook.
 

A PM do Rio conta com mais de 2 milhões de seguidores, quando somada a página oficial da corporação e as fanpages de todas as unidades operacionais. Todas as unidades adotaram o Whatsaap como ferramenta de interação com a sociedade.
"As informações falsas, além de consumir tempo e energia dos agentes de segurança, acabam fomentando o pânico coletivo e ampliando a sensação de insegurança. A PM do Rio considera que está vencendo a guerra da contrainformação", afirma.
 

Pernambuco
 
Em Pernambuco, os casos mais frequentes são falsos relatos de arrastões. "Basta uma gritaria em locais de maior fluxo de pessoas que o Whatsapp começa a funcionar. Um usuário diz que está tendo um arrastão em tal local e logo os compartilhamentos chegam à enésima potência, provocando pânico absolutamente desnecessário, em situações que, quando existe alguma coisa realmente, como brigas ou assaltos isolados, são facilmente controlados pela polícia, mas a boataria segue adiante", diz a PM, em nota.
 
Os diversos casos diariamente demandam o deslocamento de equipes para checar. "São informações que trazem transtornos à população, geram pânico desnecessário, ocupam os profissionais da segurança e prestam desserviço à sociedade", informa a corporação.
A PM de Pernambuco diz que também usa as redes para desmentir os boatos, mas que, devido à grande circulação dessas informações em grupos, em formatos e detalhes que simulam a realidade, "é praticamente impossível obter a reversão do fato porque é comum, nas redes sociais, pessoas terem acesso apenas às fake news, sem procurar checar o que realmente ocorreu antes de fazer compartilhamentos".

Bahia
 
Na Bahia, os boatos e notícias falsas que mais mobilizam a polícia são osfalsos toques de recolher.
"Geralmente são boatos que circulam com uma velocidade muito grande nas redes sociais e tais informações, que na maioria das vezes são falaciosas, terminam por disseminar o receio na população e serviços essenciais são suspensos e repercutem na rotina daquela região específica. Há suspensão do serviço de transporte coletivo, das aulas nas escolas, dos serviços de saúde e do próprio comércio local. E isso demanda, por vezes, a intensificação do policiamento ostensivo até que a rotina se restabeleça e a população sinta-se novamente em plena segurança para retomar as suas atividades", afirma a PM.
 
Os boatos que correm nos aplicativos de mensagem surgem por variados motivos: prisões ou mortes de criminosos em confronto com rivais ou com as própria policial, casos de comoção social que envolvem membros de uma comunidade, disputas entre criminosos rivais por territórios.
A polícia diz que o trabalho para combater essa prática é "árduo e ininterrupto" e que envolve "conscientização através das ferramentas de mídias sociais institucionais, presença constante em programas de entrevistas e jornalísticos, esclarecendo a população sobre os cuidados em não reproduzir informações que não se tem certeza da veracidade e procedência".
Apesar disso, o emprego de equipes táticas e especializadas às vezes torna-se necessário. "É a última opção para o restabelecimento da ordem e da sensação de segurança da população na maioria das oportunidades."
 

Mato Grosso
 
Em Cuiabá e cidades próximas da capital de Mato Grosso, os principais boatos e notícias falsas falam do sequestro de crianças, universitários e idosos. Em um deles, há dois anos, uma vítima passou a receber ameaças na internet. Também são muito compartilhados casos que ocorreram em outros locais como se tivessem ocorrido na região.

O coronel Edvan Manoel de Azevedo, que comanda cinco batalhões e duas companhias na região, diz que a polícia usa o serviço de inteligência e mobiliza equipes para checar a veracidade das informações. Os policiais também aproveitam seus próprios grupos de Whatsapp para checar a informação na ponta.

"No ano passado teve uma situação no mês de novembro em que alguns estados da nossa federação estavam tendo situação de ônibus queimado. Mandaram fotografia por Whatsapp dizendo que estavam queimando dois ônibus em Cuiabá. De pronto colocamos o serviço de inteligência e também os batalhões e foi detectado que não era em Cuiabá, e sim em uma cidade do Nordeste brasileiro. Fizemos contato com os meios de comunicação para avisar que era boato", lembra o comandante.

"As redes sociais são muito úteis e para alguns serviços a gente utiliza de uma forma que ajuda, mas tem muita situação em que chegam a atrapalhar. Quando chega a situação dessa [de noticia falsa ou boato] tem de filtrar, fazer uma análise, para não despender esforços por uma informação que é inverídica", conclui.

Fonte: G1


 

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