Idosa diz que segredo para chegar aos cem anos é não parar nunca e fazer o que gosta

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Publicada 11 de Julho, 2017 às 09:10

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"Rumo ao centenário", anunciou Jandira Ramos Casaes, no dia 12 de julho de 2007, ainda no altar da igreja de Santo Afonso, na Tijuca, na Zona Norte do Rio, onde era celebrada uma missa em sua homenagem. Naquele dia, ao completar 90 anos, ela deu início a contagem regressiva que chega ao fim nesta quarta-feira, quando pretende reunir cerca de 300 familiares e amigos, no mesmo templo, para festejar o aniversário. A data representa também um recomeço. Porém, sua meta agora é mais modesta: chegar a 101. Mas, animados com a vitalidade da idosa, saudável e lúcida, tem parentes que apostam em mais dez ou vinte anos pela frente.

? Vamos de leve. Deus é quem sabe. Só tenho a agradecer pelos longos anos de vida que ele me deu ? pondera a aniversariante, acrescentando que a nova meta agora é viver um ano, por vez.

A receita da idosa para chegar bem aos cem anos é "não parar nunca e fazer o que gosta". No segundo quesito, ela inclui ? meio envergonhada da possível crítica dos defensores da dieta saudável ? tomar um copo de Coca-Cola todos os dias, acompanhando as refeições. Mas garante que não é vício. Aliás, se orgulha de nunca ter fumado nem colocado bebida alcoólica na boca. Mas come de tudo, sem restrição.

? O segredo é comer de tudo, mas com moderação. Não passo sem o refrigerante, mas também não exagero. É só um copo por dia ? jura.

Como não podia deixar de ser, é numa churrascaria que Jandira vai terminar a noite do aniversário rodeada pelos quatro filhos ? só o mais velho é falecido ? , 13 netos, 25 bisnetos e uma infinidade de parentes e amigos. Vaidosa, dispensa a bengala, por fazer "parecer mais velha", mas não abre mão do perfume, batom e o colar de pérolas.

Amante do carnaval, na juventude fugia do pai para ir atrás dos blocos na sua cidade natal, Mendes, a 98 km da capital, costume que manteve depois de casada, agora com o consentimento do marido que, avesso à folia, ficava em casa cuidando dos filhos pequenos. Até dois anos atrás, fazia questão de acompanhar o bloco, ?Dois Pra Lá, Dois Pra Cá?, criado por Carlinhos de Jesus, pelas ruas da Zona Sul. Também gostava de cantar na juventude, a ponto de ser convidada a animar festas de famílias amigas.

Outro prazer abandonado, este há um ano, foi as noitadas no teatro com as amigas, num grupo que contava com o serviço de um motorista de van para levar e buscar. Mas ela garante que a mudança de hábito não foi motivada pelo medo da violência. Problemas de saúde comprometeram um pouco a mobilidade da idosa, mas não a ponto de impedi-la de ir, sozinha, à missa na igreja do bairro, quatro vezes na semana.

Ativa, mora com uma das filhas e se queixa de não a deixarem fazer as atividades domésticas, restando a ela um hobby, que virou terapia diária: o tricô. Das suas mãos saíram casacos, gorros e sapatinhos que vestiram todos os bebês de três gerações da família. Outro prazer é preencher diversos cadernos contando a história da família. Existe um específico para cada filho, onde ela anota, desde a data do nascimento, os momentos mais marcantes da vida de cada um, recheado por fotografias. Há ainda um ?livrão? específico, com dados de todo o restante da família.

? Descobrimos, através das anotações dela, que existem 443 pessoas vivas da família ? afirma o neto mais velho Fernando Ramos Casaes Filho, de 55 anos, que não descarta uma dia publicar a história da família, a partir dos escritos da avó.

Corrupção atual assusta testemunha de um século de história

Jandira é a quarta dos 13 filhos do pedreiro Manoel com a professora Leonor, dos quais quatro ? todos mais novos que ela ? ainda estão vivos. Também seguiu o magistério, que abandonou três anos depois, para se dedicar à família. Nascida em Mendes, cidade serrana do centro sul fluminense com cerca de 22.800 habitantes, segundo o último Censo do IBGE, foi casada com Abner, que morreu aos 75 anos. O baiano de Ilhéus, que é pai dos seus filhos, foi à cidade em busca de emprego, após deixar o serviço militar no Rio. O casal mudou-se para Nilópolis, na Baixada Fluminense, passando por Vaz Lobo e Cavalcante, na Zona Norte do Rio, até chegar à Tijuca, em 1973, de onde nunca mais saiu.

Em 1917, ano em Jandira nasceu, o Brasil era sacudido por sua primeira greve geral e, na Rússia, se instalava o governo socialista, após derrubada do último czar. Também naquele ano nasceu John F. Kennedy, que viria a se tornar o 35º presidente dos Estados Unidos, em 1963. De lá para cá aconteceram duas guerras mundias, o homem foi à lua, o Brasil venceu cinco copas do mundo e teve 24 presidentes (cinco deles militares, em 20 anos de ditadura). Testemunha ocular de todas estas transformações do último século, a ex-professora diz que o que mais a assusta é a corrupção atual que se instalou em todas as esferas do poder no país.

? Aqui no Rio acabou gerando uma crise que atinge todas as classes sociais, mas é o pobre que sofre mais. Tenho exemplos na família, como uma filha professora que está sem receber salário e presencio o caso de amigas que tiveram de receber os filhos casados de volta em casa. Crise como essa nunca vi igual ? garante a centenária moradora da Tijuca, que admite não ter conseguido realizar dois sonhos ainda: ter um motorista particular, para não depender de ninguém em suas andanças, e um tataraneto, que ainda não veio, apesar do bisneto mais velho, filho de Fernando, já ter 33 anos.

Os cinco segredos da longevidade:

1 - Viver de bem com a vida e saber envelhecer com sabedoria.

2 - Comer de tudo, mas com moderação.

3 - Não parar nunca e ter espírito jovem.

4 - Não perder a fé. ?É ela que ajuda a atravessar os momentos difíceis?, diz.

5 - Amar a si próprio, ao próximo e, sobretudo, a vida.

Fonte: Extra

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