Mulher encarcerada pela família por 16 anos é resgatada no Ceará

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Publicada 30 de Março, 2017 às 09:26

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Uma mulher que foi mantida em cárcere privado por 16 anos foi libertada, em Uruburetama, no Ceará. Maria Lúcia de Almeida Braga, de 36 anos, foi feita refém pelos próprios familiares após engravidar. O resgate aconteceu no dia 09 deste mês, mas só foi divulgado nesta quarta-feira, um dia após a prisão do irmão dela.

João de Almeida Braga, de 48 anos, foi preso por cárcere privado e maus tratos. A pena para os crimes vai até oito anos de reclusão. Os pais da vítima, de acordo com a polícia, são idosos e com diversos problemas de saúde.

Maria Lúcia foi colocada em cárcere privado aos 20 anos, após engravidar de um homem com quem teve um rápido relacionamento. Segundo o delegado Harley Filho, responsável pelo caso, a família optou por aprisioná-la para evitar que ela tivesse outro filho.

- Ela estudava na época. Conheceu um rapaz e quando terminou, segundo os familiares, apresentou um déficit mental. Isso foi se agravando e, nesse intervalo, ela engravidou de outro homem. Por vergonha, o pai optou por encarcerá-la. Ela deu à luz e o filho foi entregue para terceiros - contou.

João era quem cuidava das finanças da família e que manteve a irmã refém após os pais apresentarem problemas de saúde. O pai de Maria Lúcia teve mais de um AVC. Já a mãe, que segundo o delegado, não concordava com o encarceramento, desenvolveu problemas psicológicos e vivia inerte em uma cama, sem falar com o marido.

- Eles são muito idosos e debilitados. Ele hoje tem mais 70 anos, teve alguns AVCs. A mãe não ajudava, não aceitava, mas convivia com isso. Ela praticamente vive no mesmo estado de penúria da filha. 

Conseguimos famílias dispostas a acolhe-los e eles estão sendo cuidados - disse o delegado.

De acordo a polícia, o quarto onde Maria Lúcia era mantida não possuía banheiro e havia fezes e urina pelo local. O cômodo não tinha eletricidade e era iluminado somente pela luz da janela, fechada por um cadeado. Ela também não possuía roupas e era mantida nua. Segundo o depoimento dos familiares, a vítima se alimentava duas vezes por dia: às 10h e às 15h ou 16h.

- Era um cômodo três por três, com apenas uma rede. Estava muito fétido, úmido, com telhado próximo de cair e ela estava muito suja. Ela correu abrindo os braços para os agentes quando nos viu. Ela estava muito magra, mas já está recuperando o peso normal. Fala com dificuldade, mas está começando a escrever. Antes, fazia somente alguns desenhos sem nexo - contou.

A Polícia chegou ao local através de uma denúncia anônima.

- No dia 8 de março recebemos uma denuncia anônima dizendo que ela estava em cárcere privado. Fizemos diligência e encontramos o terreno. Para ingressar havia dois cadeados. Rompemos eles e avistamos três casas no terreno. Ela estava em uma delas. Quebramos quatro cadeados, no total, para entrar. É uma área de difícil acesso, que o carro não passa. Por mais que ela gritasse, não seria ouvida.

Após o resgate, Maria Lúcia foi levada ao hospital de Uruburetama, passou por exames regulares e agora está sob os cuidados de uma família local. O filho da vítima já foi identificado pela Polícia, segundo o delegado.

- Já o identificamos. Hoje tem 15 anos e já sabe do ocorrido. Estamos dando um tempo para que se acostume com a situação e que ela melhore. Teremos muita cautela com relação a um possível reencontro - disse.

A Polícia agora busca o pai do adolescente, que ainda não foi identificado. O pai de Maria Lúcia, será indiciado por maus tratos e cárcere privado mas, por causa da idade e condições físicas, o delegado não pedirá pela prisão.

- Vamos deixar a Justiça decidir pela prisão. Neste momento, estamos cuidando da vítima e fazendo todo o amparo social a esta família - finalizou.

Fonte:Jornal Extra

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